MUSCULAÇÃO NA MELHOR IDADE
Introdução
Diante das atuais pesquisas verifica-se que o Brasil passa por um processo de
rápido envelhecimento populacional. Estimativas apontam que, neste século o
Brasil será o sexto maior em número de idosos. Constata-se também que a
atividade física regular torna o idoso mais dinâmico, diminuindo assim a
incidência de doenças, oferecendo melhor qualidade de vida e auto-estima.
Sendo assim, a musculação é recomendada para o idoso a fim de manter e/ou
aumentar sua força muscular, melhorando o desempenho nas atividades
cotidianas.
Logo, está pesquisa de revisão bibliográfica tem o objetivo de analisar a
importância da musculação para a terceira idade, bem como, destacar seus
benefícios para esta população.
Para o idoso participar de alguma atividade física é necessário um
estímulo motivacional para que a prática se torne um hábito comum de seu
dia a dia. Observa-se que os idosos estão procurando ter um estilo de vida
ativo com a prática de atividade física regular, pois ela proporciona uma
melhor aptidão física.
Estudos recentes apontam que hoje aproximadamente 70% das pessoas acima de 60
anos no Brasil ainda são sedentárias. Esta estatística é assustadora se
considerarmos as conseqüências do sedentarismo, que variam desde o risco de
infarto do miocárdio até acidentes vasculares e o câncer. Isto se agrava
nas pessoas de terceira idade, pois nesta fase o organismo já não é mais
como antes, seus corpos não são mais tão flexíveis e seus movimentos não
são mais tão ágeis.
Atualmente, a musculação é uma atividade indicada para os idosos, pois
sabe-se que o treinamento com pesos é eficaz na prevenção e tratamento de
doenças como a osteoporose, obesidade, hipertensão arterial e diabetes, e
tem como objetivo aumentar a massa muscular, densidade óssea, aperfeiçoando
o desempenho relacionado à força, melhorando as condições funcionais do
aluno, fazendo com que ele realize os esforços da vida diária com mais
segurança, disposição, facilidade e sem a dependência de terceiros.
Os benefícios apresentados podem ser fisiológicos como o controle dos
níveis de glicose, maior capacidade aeróbia, maior flexibilidade e
equilíbrio; podem ser psicológicos, como relaxamento, redução na ansiedade
e melhor saúde e diminuição no risco de depressão e por fim, os
benefícios sociais, indivíduos mais seguros e mais integrados com a
comunidade e funções sociais preservadas.
Nesse sentido, nós profissionais de Educação Física, devemos conhecer esse
público e suas expectativas em relação à prática da atividade física,
para desenvolvermos uma atividade segura e de boa qualidade.
Terceira
idade e o processo de envelhecimento
A população de idosos brasileiros com mais de 60 anos, de acordo
Camarano et al. (2002) vem aumentando consideravelmente devido à
influência da redução da taxa de fecundidade associada aos avanços da
tecnologia na área da medicina, contribuindo significativamente com a
diminuição da taxa de mortalidade. Sendo assim, a expectativa de vida tem se
elevado no decorrer dos anos.
No Brasil, de acordo com registros de Okuma et
al., (2002), em 1940 os idosos representavam 4% do total da população, no
ano de 2000 a expectativa cresceu para 9%, estimando-se em cerca de 15
milhões de habitantes com mais de 60 anos e em 2020, acredita-se que esta
população esteja em torno de 15% da população de brasileiros.
Com o processo natural de envelhecimento, diversas transformações são
facilmente percebidas, como perda de peso, redução da massa corpórea magra,
cabelos grisalhos, pele enrugada, etc. Estes fatores, segundo, Papaléo Netto
(2005), é o reflexo de um somatório de alterações que ocorrerão mais
rápidas ou mais lentamente em cada um de nós.
Assim, com o decorrer da idade os idosos sofrem um débito funcional em
relação ao seu organismo causando alterações nos tecidos, enzimas,
moléculas e células, isto ocorrerá ao longo de toda sua vida. Além desses
fatores, hábitos de vida inadequados podem ocasionar mais facilmente, várias
patologias físicas e psíquicas.
Cabe a nós, profissionais de Educação Física, usarmos da nossa profissão
com competência, como um dos meios de minimizar e prevenir esse processo,
tornando os indivíduos/idosos mais saudáveis, mais aptos, bem dispostos,
independentes, reintegrados na sociedade, com melhores condições de vida e,
conseqüentemente valorizando-se e sendo valorizado.
Santos (2000), citado por Mazo, Lopes e Benedetti (2001) registram que a
maioria dos especialistas da área de atividade física ligada ao idoso
utiliza a idade cronológica de 60 anos como base para seus estudos, a qual
muitas vezes não corresponde a idade biológica do indivíduo, uma vez que
outras condições podem influenciar diretamente sobre cada um de nós,
mostrando que o envelhecimento acontece individualmente, de acordo com as
características físicas, funcionais, mentais e de saúde de cada indivíduo.
A conseqüência natural do envelhecimento, de acordo com os autores,
é um processo biológico onde os órgãos envelhecem com mais rapidez,
mas outros fatores também interferem, no entanto, de forma diferente de um
indivíduo para outro.
Os autores classificam o envelhecimento em: envelhecimento social, que ocorre
de acordo com a cultura do indivíduo; o envelhecimento intelectual que se
caracteriza em falhas na memória, concentração e falta de atenção, e o
envelhecimento funcional, compreendido quando o individuo necessita de outras
pessoas para realizar suas atividades.
De acordo com Meirelles (1999), o processo de envelhecimento se inicia a
partir da sua concepção, sendo assim, o envelhecimento é um processo
dinâmico e progressivo onde surgem modificações tanto morfológicas como
funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam a progressiva perda
da capacidade de adaptação ao meio ambiente, ocasionando uma maior
incidência de processos patológicos.
Logo, a prática da musculação proporcionará ao idoso uma diminuição ou
retardamento dos problemas ligados à saúde, contribuindo para um
envelhecimento saudável, melhorando também a sua auto-estima.
Meirelles (1999), afirma que no processo de envelhecimento há uma maior
predisposição a doenças e incapacidades, porém a pratica de atividade
física promove o retardamento do processo de envelhecimento, possibilitando a
normalização da vida do idoso e afastando os fatores de risco comuns na
terceira idade.
Costa (2004) cita que o envelhecimento está associado a uma variedade de
limitações físicas e psicológicas, em conseqüência disso torna-se
difícil para estes indivíduos desempenharem certas ações, tornando-os
incapacitados para a realização de atividades físicas e prejudicando sua
qualidade de vida.
Para Aquine et al. (2002), muitas modificações ocorrem com o envelhecimento
fazendo com que o organismo funcione de maneira diferenciada, o corpo torna-se
menos flexível, os movimentos são mais lentos com a perda da agilidade, as
articulações perdem mobilidade e elasticidade, os ossos ficam mais fracos,
ocorre uma deterioração do aparelho bronco-pulmonar, com comprometimento de
todo o sistema respiratório, o aparelho cardiovascular também diminui sua
capacidade, causando várias alterações fazendo com que o individuo se sinta
mais limitado.
O nosso papel como profissional de Educação Física é intervir nesse
processo de envelhecimento, contribuindo com a prescrição de uma atividade
física sadia e segura, fazendo com que os idosos envelheçam de maneira mais
saudável, tornando-os menos dependentes, retardando o envelhecimento,
possibilitando-lhes uma melhora na sua qualidade de vida.
Para que essa possibilidade de uma melhor qualidade de vida aconteça, podemos
mencionar o grande número de estudos e pesquisas que apontam os inúmeros
benefícios da prática de atividade física regular. Dentre as mais variadas
opções dessa prática, podemos sugerir a musculação.
A
prática da Musculação
Podemos dizer que musculação é o termo mais usado para designar o
treinamento com pesos, sendo assim, a musculação não pode ser caracterizada
como uma modalidade esportiva, mas sim como uma forma de treinamento.
A musculação, segundo Cossenza (1995), é algo tão antigo quanto os relatos
de civilização humana, há muitos séculos que o homem já faz exercícios
com pesos progressivos como forma de fortalecer os músculos e
conseqüentemente adquirir maior força, como forma de sobrevivência, pois o
sucesso na caça e a defesa das terras não eram obtidos pelos mais fracos.
Já Bittencourt (1986) relata os métodos de treinamento utilizados por Milos
de Crotona na época de 500 a 580 a.C.. Milos era um atleta Olímpico de lutas
e utilizava o mesmo método utilizado nos dias de hoje, o de evolução
progressiva de carga, sendo que este carregava um bezerro nas costas para
aumentar os níveis de força de membros inferiores, e sua força aumentava na
mesma proporção do aumento de peso do bezerro.
A musculação, de acordo com Santarém (1999) ocupa um lugar de destaque
entre os métodos de treinamentos físicos mais populares existentes em todo o
mundo.
A musculação é uma atividade que consiste em trabalhar a musculatura
corporal, realizando exercícios contra uma resistência que pode ser
empregada das mais variadas formas, como uma carga num halter ou em uma barra
longa, em um aparelho com baterias de placas, tensores elásticos, aparelhos
de ar comprimido, ou simplesmente contra a força da gravidade. (PINTO et al,
2008)
Godoy (1994) citado por Viana (2002) cita que a musculação é uma atividade
física desenvolvida através de exercícios analíticos, que utilizam a
resistência progressiva fornecida por recursos materiais, como a dos
halteres, barras, anilhas, aglomerados, módulos, extensores, peças
lastradas, ou até mesmo o próprio corpo.
Bittencourt (1986) ainda salienta que a musculação terapêutica atua como um
trabalho de peso que visa o fortalecimento músculo - articular, após toda e
qualquer intervenção cirúrgica nessas estruturas corporais, auxiliando o
fortalecimento muscular durante o período de imobilização articular
através de contrações isométricas que irão evitar que se acentuem as
atrofias musculares e, como conseqüência possibilitem uma melhoria mais
acelerada das lesões.
Devido ao histórico da musculação pode-se observar que, quando ela começou
a ser praticada e até mesmo no decorrer de sua historia, essas práticas eram
meramente para o ganho de força e massa e hoje esses mesmos objetivos são
alcançados, só que de forma diferenciada e adaptada para os idosos.
A
prática da Musculação e o idoso
Observando o crescimento expressivo da população idosa, conciliando com o
acesso a informação, é perceptível um aumento de idosos na procura de
exercícios como a musculação.
Estudos da Universidade de Stanford (EUA, 2005), de acordo com Mota et al.
(2002) comprovam que a musculação para idosos, praticados algumas vezes por
semana é ideal para ganhar massa muscular e melhorar o equilíbrio corporal.
Os estudos relatam que quando os idosos mantêm uma rotina de treinamento
adequado e regular, conseguem adquirir ótimos resultados para saúde e que,
mesmo os indivíduos mais fracos, podem adquirir melhoria com a musculação.
Segundo Santarém (1999), os chamados exercícios resistidos, ou exercício de
contra-resistência, geralmente são realizados com pesos, embora existam
outras formas de oferecer resistência à contração muscular.
Musculação é o termo mais utilizado para designar o treinamento com peso,
fazendo referência ao seu efeito mais evidente, que é o aumento da massa
muscular. Assim, musculação não é uma modalidade esportiva, mas uma forma
de treinamento físico. (MOTA et al., 2002)
Do ponto de vista funcional, os exercícios com pesos, desenvolvem importantes
qualidades de aptidão, constituindo uma das mais completas formas de
preparação física. Uma das características mais marcantes dos exercícios
com peso é a facilidade com que podem ser adaptados à condição física
individual, possibilitando até mesmo o treinamento de pessoas extremamente
debilitadas. Pela ausência de movimentos rápidos e desacelerações, os
exercícios com pesos apresentam também baixos risco de lesões traumáticas.
Segundo Launstein (2006), musculação tem por objetivo aumentar a massa
muscular, a densidade óssea, aperfeiçoando o desempenho relacionado a
força, melhorando a condição funcional do aluno, fazendo com que ele
realize os esforços da vida diária com mais segurança, disposição e
facilidade. Além disso, a incidência de lesões durante a aula é muito
reduzida, em função da ausência de choques entre as pessoas, de movimentos
violentos e mínimos riscos de quedas.
Nahas (2003) ressalta que, dentre os benefícios que a musculação pode
trazer para essas pessoas, os de maior importância podem ser relacionados em
benefícios fisiológicos, o controle dos níveis de glicose, maior capacidade
aeróbia, melhoria da flexibilidade e equilíbrio; benefícios psicológicos
proporcionando relaxamento, redução na ansiedade, melhoria na saúde e
diminuição do risco de depressão; os benefícios sociais possibilitando
indivíduos mais seguros, maior integração com a comunidade, além de
funções sociais preservadas; e os benefícios relacionados aos aspectos de
saúde como postura, locomoção, mobilidade, circulação periférica,
visando melhorar a qualidade de vida dos idosos e torná-los indivíduos mais
ativos.
Verifica-se, portanto que a velhice, além de alterações biológicas, traz
mudanças psicológicas e sociais que contribuem para o relacionamento do
idoso consigo mesmo, com a família, amigos e a sociedade.
Nadeau e Peronnet (1985) reforçam os benefícios que a prática de
exercícios físicos traz na terceira idade, informando que eles possibilitam
o aumento da massa muscular, reduzem o percentual de gordura corporal,
aumentando a força do indivíduo, facilitando a sua locomoção, mantêm a
pressão sanguínea e a freqüência cardíaca dentro de padrões aceitáveis
para a idade, dificultando o acúmulo de colesterol no sangue, entre outros.
A musculação faz com que o indivíduo tenha mais força, devido ao aumento
da massa muscular evitando quedas que, segundo Fiatarone apud Work (1991) dos
indivíduos acima de 65 anos, 40% caem pelo menos uma vez por ano, podendo
ocorrer lesões, principalmente fraturas que reduzem a mobilidade articular.
Em conseqüência, ocorre uma sucessão de fatos tais como medo de executar
movimentos novamente, sedentarismo e doenças, acentuados também pela má
nutrição.
Conclusão
De acordo com os diversos referenciais consultados, constata-se a eficácia
gradual de um programa de treinamento resistido para indivíduos idosos.
A importância da prática da musculação é evidente na vida do idoso,
permitindo melhor desempenho físico, tornando-os menos suscetíveis às
fraturas ósseas que geralmente acompanham a melhor idade. Essa prática
também possibilita retardar / amenizar as doenças crônicas degenerativas,
tão comuns nesta fase da vida.
Com o passar dos anos a força diminui cada vez mais e, se o indivíduo não
se exercitar tenderá a ter maior comprometimento nas suas ações diárias. A
força é um fator importante para as capacidades funcionais como: subir e
descer uma escada, sentar numa cadeira entre outras coisas, logo é importante
mantê-la por meio da prática de atividades físicas regulares, como a
musculação, pois ela é vital para a saúde tanto física como mental
contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida.
Cabe ressaltar que essa prática só trará bons resultados se for planejada e
ministrada por profissionais de Educação Física, devidamente habilitados, e
que tenham conhecimentos específicos na área, a fim de suprir as
necessidades almejadas pelos idosos.
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